quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Patrícia Barreto



"Meu nome é Patrícia Barreto, tenho 38 anos. Desde os 25, a ataxia apareceu. Primeiro usava andador, mas há dois anos estou na cadeira de rodas. Sou fonoaudióloga do Hospital Federal Cardoso Fontes, mas hoje não atendo. Atuo na parte burocrática do serviço de fonoaudiologia com redução da carga horária (antes eram 30 horas semanais, hoje são 18). Meu diagnóstico, depois de dois anos, foi ataxia cerebelar, mas não se sabe qual. Eu tinha 27 anos quando recebi a notícia. Eu comecei a namorar meu ex-marido com 12 anos, ele foi o primeiro em tudo. Casamos, eu com 19 anos e ele com 23. Ele tinha quase três anos de formado em Medicina, e eu estava no último ano de fonoaudiologia, tudo seguia bem, até que ele sofreu uma tentativa de assalto e recebeu um tiro que o deixou paraplégico. Estávamos com 11 meses de casados. Quando terminei a faculdade, eu me descobri grávida. Tive minha filha com 21 anos. Meu ex-marido melhorou, não voltou a andar, mas voltou a ser o homem com quem me casei. Decidimos fazer provas para a Região dos Lagos. A Anna Beatriz, minha filha, estava com um ano e meio quando fomos para lá. Ficamos casados por 10 anos. Portanto, eu tive atrofia cerebelar com 5 anos de casada. O médico e eu achamos que esse estresse que adiantou o processo. Não tenho casos na minha família. Primeiramente meus pacientes achavam que havia algo estranho com a minha letra, e eu também comecei a reparar no meu andar, parecia uma bêbada caminhado, cambaleante. Teve início a minha saga, minha filha estava na alfabetização. Meu ex se envolveu com política e me botou um par de chifres. Só fui casada uma vez e fiquei traumatizada (Risos). Então nos divorciamos e ele se casou com a mulher que ele dizia que era apenas uma amiga. Ela era “amiga” da minha irmã, que na época era assessora dele. No divórcio, ficou acertado que eu ficaria com 60% da casa, quatro salários mínimos pra Anna e um salário e meio para mim. Figuei na Região dos Lagos, em Iguaba Grande Quatro anos depois do divórcio, fiz concurso para o Ministério da Saúde e passei (fonoaudióloga deficiente) e também fui chamada pelo Sarah, como paciente, no Rio de Janeiro. Decidi voltar para o Rio de Janeiro, fui para a casa da minha mãe. Na época, usava andador. O pai da minha filha tirou a minha pensão porque eu estava trabalhando. Trabalhei, juntei dinheiro para dar entrada num apartamento que comprei mais ou menos perto de onde mora minha mãe. Minha filha decidiu continuar morando com a avó. Combinei com a minha mãe dela ficar lá até terminar o ano. Findado o ano, Anna veio morar comigo. Nesse período, eu tive uma piora e fui para a cadeira de rodas. Minha filha tentou morar comigo, mas acabou voltando para a casa da avó, e posteriormente foi para a casa do pai. Assim é a adolescência, jovens acham que são donos do seu nariz e não têm medo de nada. Moro no Rio, só eu e Deus. Nos fins de semana, ela vem ao Rio e fica na casa da minha mãe, pois está namorando e tem muitos amigos. Amanhã, sexta, dia 4 de dezembro, vai ser a colação de grau dela, acho que vou para Araruama. Estou tentando voltar para o andador. Faço fisioterapia em casa e no Hospital Sarah Kubitscheck. Não desisti de voltar a andar. Se Deus quiser, voltarei ou não, mas farei a minha parte. Eu me banco, não dependo financeiramente de ninguém, essa foi uma grande conquista. Não precisei de psiquiatra e ainda não rasgo dinheiro. Bola pra frente.

Um comentário:

  1. Gilberto Barcelos Bino6 de dezembro de 2015 às 10:18

    Patrícia, você é uma guerreira e eu te conheço desde os tempos de juniores, sempre observei em você uma FÉ inabalável, me lembro quando marcava com vocês um ensaio de teatro ou música e você nunca fugia aos desafios, se era pra cantar, cantava, se não sabia a música, aprendia e era do mesmo jeito com o teatro, fazia o papel que lhe mandava, sem medo de errar, na hora dava aquele frio na barriga, de enfrentar a igreja toda olhando pra vocês, ai eu mandava vocês entrarem e dizia para olharem pra mim. tenho acompanhado de longe a sua história e vejo que você continua sendo a mesma guerreira, por isso eu não preciso te falar nada, ao contrário, eu é que tenho muito a aprender com você. A vida é difícil e você sabe disso, continue com essa garra e tenha FÉ em Deus, pois eu sei que ele está contigo.
    Vou lhe dizer algo que sempre digo aos meus filhos: O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; Que o Senhor levante sobre ti o seu rosto, e te dê a paz.

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