segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Edla Merlitz

Meu nome é Edla Merlitz.Nunca imaginei morar fora do meu país, mas as circunstâncias me trouxeram para a Alemanha.
Mudar de país, assim como, certas situações de vida, são experiências difíceis de traduzir. É preciso vivê-las para saber o que se sente. O diferente atrai, estimula a curiosidade, mas também assusta. Não há como viver a experiência sem stress. Há necessidade de mudar de idioma, de clima, de costumes, enfim, adaptar-se, transformar-se. Não me senti na obrigação de fazer grandes mudanças, pois migrei com mais de cinquenta anos, fora do mercado de trabalho, pois já estava aposentada por tempo de serviço; foram 32 nos dedicados ao magistério no Brasil e como sabemos, é na infância e também na juventude que o processo de adaptação é mais suave. Estou aqui unicamente por ser a pátria do meu marido e foi conveniente pra nós e também pra nossa filha, vivermos aqui. Porém, a distância do Brasil é geográfica, mas não emocional.
Eu gosto muito de morar aqui: limpo, silencioso, bonito, sério, organizado, pessoas polidas e educadas, boa acessibilidade. Cerca 70% dos brasileiros que moram aqui são mulheres casadas com alemães. Muitas famílias são multiculturais, isto é, alemães casados (as) com estrangeiros (as): asiáticas, africanas, latinas, européias de outros países .
Eu vivo em Darmstadt, cidade da região metropolitana de Frankfurt com 150 mil habitantes. Eu soube que, em Darmstadt há pessoas de 147 nacionalidades diferentes. Nas imediações existem cerca de 100 brasileiros de origens sociais diferentes.
Em Frankfurt 28% da população nasceu em outro país. É significativo o número de muçulmanos entre a população de origem estrangeira. Por ser um país com muitos imigrantes (maioria turco) é mais acostumado com a diversidade cultural do que outros países, principalmente nas grandes cidades. Eu gosto desta diversidade cultural. A globalização e a internet, permitem que eu viva o Brasil diariamente sem estar fisicamente nele.
Além do computador, eu tenho um rádio que através da internet, sintoniza aproximadamente 300 estações de rádio no Brasil. Continuo consumindo com frequência: farinha de mandioca, cangica, tapioca, creme de leite, goiabada, feijão preto ... e até rapadura eu já encontrei aqui (produzidos no Brasil). Coco ralado, leite de coco, coentro, banana, manga, mamão, aipim (mandioca, macaxeira), abacaxi, vindos da Ásia, África e América Latina, e assim, satisfaço o meu paladar.
Como sabemos, a Alemanha foi duramente castigada por ter provocado o conflito e por isso, ficou em ruínas ao final da Segunda Guerra Mundial. Em 11 de setembro de 1942, Darmstadt foi intensamente bombardeada, este fato ficou conhecido como a longa noite do incêndio. Não se mexe em nenhum terreno sem que pessoas especializadas liberem. Foram foram encontradas mais de 700 bombas em 2012.
O ruim aqui é o tempo, o inverno é longo, mas eu tolero, por exemplo, uso meias quase o ano inteiro, não reclamo, aproveito para usar chapéus e cachecóis, adoro ambos e tenho vários.
Conviver com DMJ (Doença de Machado Joseph, a ataxia número 03) é difícil em qualquer lugar do mundo, sendo assim, eu não sou privilegiada por viver na Alemanha. A redução da mobilidade provocada pela doença me impede de vivenciar este país como eu gostaria.

Nada tenho que reclamar da Alemanha. Considero o apoio social satisfatório e a acessibilidade, boa. Nao posso ser injusta com este país. Fui diagnosticada aqui, em 2002 (a primeira da minha família), após nove dias internada num hospital (setor de busca de diagnóstico ), com todos os exames necessários realizados e sem stress. A internação evita idas e vindas, poupa tempo, e evita o desgaste do paciente. Existe uma escala para doenças graves e nela eu tenho 100% de deficiência, isso me concede alguns benefícios. 

Estou muito bem aqui. Eu mencionei as dificuldades próprias da Machado e Joseph e a "dor" provocada pela enfermidade em qualquer parte do mundo.
Edla Merlitz
(http://portadoresdeataxia.blogspot.com )
Casa de Repouso. REPOUSO????
REMÉDIOS - Outro item muito perigoso era esse. Faziam maior confusão. No começo da minha estadia eu tentava falar dos remédios que faltavam, mas depois eu parei de falar só observava......
Assim como tinha medicamento que um dia não vinha, não me traziam para tomar, quando eu perguntava sobre o medicamento me diziam que tinha acabado. No dia seguinte o tal remédio voltava a ser incluso na minha medicação.
- Como assim? Ele não havia acabado? Isso porque só tomo praticamente vitaminas e sei perfeitamente o que tomo. Imagina os idosos que pela idade não se lembram nem o que fizeram ontem, muito menos quais remédios que tomam.
AS AMIZADES QUE FIZ - Dentre esse caos todo, nesses 26 dias de experiência na Casa de Repouso, conheci pessoas legais. Não vou citar nomes para não machucar ninguém. Mas vale a pena citar uma gracinha de Fono, uma pessoa muito legal mesmo. Também tinha um Cuidador em particular de um Sr. que era muito de bem com a vida.
Conheci familiares de pacientes que também são muito educados. Também tinha um cuidador muito legal,que cuidava dos passeios e nos levava para outros lugares como ir numa igreja evangélica, numa praça e numa feira.
Não poderia deixar de citar algumas cuidadoras também, a moça da limpeza e a cozinheira.
ACESSIBILIDADE-Nesse quesito eles merecem um ZERO! Não tem preparo nenhum para os cadeirantes, muito menos para quem tem ataxia (falta de coordenação) facilmente tratado como um paciente que teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Só para vocês terem uma ideia, durante as refeições, eles colocam o prato na mesa com garfo e 'você que se vire'. Eu tive que pedir uma bandeja (para por no colo o prato) para tornar essa tarefa a mais aproveitada possível.
Coitados daqueles que não comiam sozinhos e ainda por cima ficavam sentados na cadeira de rodas o dia todo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Volto a dizer que fui para a casa de repouso por minha vontade, achando que lá ia ter mais recursos, mas não tive!
Ainda bem que eu tive a ideia de ir na Defensoria Pública atrás de uma autorização do juiz para ir para um residencial e não consegui.
Consegui do juiz, conversando com os advogados a autorização de um home care que estou experimentando.
Mas isso já é uma outra história. Ainda bem que meus filhos, nora e genro me apoiam. Eles sabem que gosto de agitar bastante.
ISSO É MOVIMENTO E VIDA!

6 comentários:

  1. Boa tarde, Edla, me lembro de você no IPCN. O Spirito Santo me enviou sua matéria neste blog.
    Morei na Alemanha de 1990 até 2013.
    Pena que não sabia que você estava por aí, pois poderia tê-la visitado.
    Mas fiquemos em contato.

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  2. Esqueci, sou Marcos Romão, romao@gmx.de

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    1. Pena que não nos encontramos na Alemanha Marcos.

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  3. Fiquei muito comovido com esse relato, mas devemos fortalecer o espírito para emanar boas energias e continuar..

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  4. Minha ex- professora querida!..N imagina o quanto lamento, reencontra-la, depois de tantos anos, nessa situação!...Apos esse relato emocionante, nem sei o q dizer...Muitas saudades, e maravilhosas lembranças, de um tempo lindo da adolescencia!...A senhora me passou forca e coragem, e muita fe na vida, apesar das dores, de q e acometida...Mas valeu a pena ter te encontrado e podermos conversar!...Nota mil, p toda garra q tem!...Deus continue te abençoando!...Bj no ♥️

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