terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Edla S. V. Merlitz




Meu nome é Edla S. V. Merlitz. Tenho 68 anos. Sou professora de geografia aposentada. Nasci no Rio de Janeiro, (RJ). Desde 2001, moro na Alemanha. Sou portadora de SCA3- DMJ (Doença de Machado de Joseph). O primeiro sinal de ataxia (leve desequilíbrio) foi percebido pelo meu marido, em 1995.
Trabalhei muito, principalmente nas décadas de setenta e oitenta, sempre em sala de aula. Trabalhava no segundo seguimento do ensino fundamental, ensino médio e cursos preparatórios para a universidade. Após 32 anos de trabalho, no ano 2000 me aposentei por tempo de serviço.



Atualmente estou bastante limitada. Escrever manualmente não é mais possível. Utilizo o teclado e manuseio o mouse com dificuldades. Ler, ouvir música, internet fazem parte do meu lazer. Faço fisioterapia e fonoterapia. Realizo pelo menos uma viagem por ano.
Inúmeras pessoas: minha mãe, avó materna, tios e primos foram ou são acometidos pela DMJ. No momento, pelo que tenho conhecimento, quatro primos apresentam a DMJ.
Em fevereiro de 2002, numa consulta com oftalmologista, cuja finalidade era verificar a pressão ocular, o médico constatou e mencionou que havia "algo errado" em meu cérebro, fato que ele verificaria melhor 3 meses depois. Houve a confirmação da suspeita. Fui encaminhada ao neurologista que fez os exames clínicos e foi indicado o exame da ressonância magnética.
Logo após a realização do mesmo, o médico identificou uma atrofia no meu cerebelo e explicou que poderia ser adquirida ou genética. Eu relatei ao médico que desconfiava que fosse de causa genética, pois várias pessoas da família apresentavam um problema que me parecia ser o mesmo com manifestações ligeiramente diferentes, mas que não havia comunicação entre os membros. Ninguém desconfiava que a doença poderia ser familiar. Para agilizar o diagnóstico, permaneci 9 dias no hospital; fiz uma série de exames para verficar se tratava-se de uma ataxia genética ou adquirida. O último foi o molecular que identificou doença de Machado de Joseph, logo genética e hereditária.
Eu fui a primeira a receber o diagnóstico correto na família. A enfermidade presente em minha mãe, tios, tias e primos, a maioria já falecidos, estava definitivamente esclarecida. A partir deste momento, eu e meu marido iniciamos as pesquisas e orientação aos possíveis portadores da família. E mamãe morreria dois anos depois com 92 anos, ciente de sua enfermidade, porém seu sofrimento foi muito grande, sujeita a numerosos equívocos por mais de trinta anos, embora sempre procurasse ajuda médica.
Moro com meu marido, que é aposentado e meu cuidador e, embora, minha filha more em outra cidade está sempre presente. Recebo, também, a visita de duas cuidadoras, 2 horas cada uma por semana. Desde 2006 não ando sozinha. Precisava de apoio de um braço humano de um lado e de uma bengala do outro. Aliás, quero acrescentar que comecei a usar a bengala como sinalizador social. Eu acredito que a bengala evita esbarrões por negligência e equívocos, pois o andar cambaleante é compreendido, muitas vezes, como má conduta por abuso de álcool ou utilização de drogas.
Em caso de queda, as pessoas não se aproximam por medo. Tenho várias dificuldades relativas à DMJ, por exemplo frequentes tremores, forte rigidez muscular e outros... Desde maio de 2012 recorro à cadeira de rodas para me deslocar na rua. Em casa não utilizo cadeira de rodas. Recorro a numerosos suportes, barras de apoio e adaptações por todo o apartamento e bengala de quatro pontas. Fazemos transformações na casa de acordo com a evolução da doença, por exemplo utilização de carpete no piso, tomo banho sentada desde 2008 com um dispositivo acoplado na banheira, sendo que a primeira adaptação foi o vaso sanitário que é mais alto que o normal e barra de apoio na parede para ajudar a levantar. Não participo de nenhum grupo de estudo em centros universitários. Sou cadastrada na ABAHE, embora more fora do país.
Enfim, acredito que a dor faz parte da condição humana. Conviver com a ataxia exige muita paciência, humildade e a certeza de que as transformações na vida são constantes. Viver exige adaptações de acordo com as necessidades do momento. Eu gosto de viajar, de música e de leitura, conhecer os diversos aspectos culturais do Brasil e dos países do mundo. Eu luto para dar visibilidade à ataxia (esclarecimento ao público de modo geral).


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